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RUBRICA TECNOLÓGICA DE HORTICULTURA 7: A LUTA CONTRA A EROSÃO, E CONSERVAÇÃO DOS SOLOS


A parte mais produtiva do solo é a camada arável de cor escura, que leva muitos anos a formar-se. A camada arável é rica em nutrientes vegetais e em organismos benéficos, como vermes. Esta camada é alimentada pelo húmus, constituído por fragmentos vegetais em decomposição. A camada arável e o húmus são facilmente destruídos pela erosão da chuva ou do vento, pelo trabalho do solo ou pela passagem frequente das pessoas. O subsolo amarelo ou castanho claro que se encontra abaixo da camada arável, pode ser ácido, sendo nesse caso por vezes difícil de cultivar.

Nas hortas pode proteger-se a camada arável recorrendo a um pára-vento, a plantas de cobertura ou a práticas de cultivo que minimizem a erosão do solo.

OS PÁRA-VENTOS

Os pára-ventos são filas de árvores ou abrigos plantados contra a direcção do vento, para reduzir a sua velocidade. A sua capacidade de travar o vento depende da sua altura e da sua densidade ou espessura. Os pára-ventos de uma horta podem também servir de vedação. Para além de impedirem a perda de solo fértil, os pára-ventos podem também:

Para assegurar uma boa protecção, um pára-vento pode ter praticamente a mesma densidade de vegetação ou espessura de alto a baixo. Quanto mais alto for o pára-vento, mais eficaz é, mas não deve privar as culturas de sol, prejudicando o seu crescimento. Para que o pára-vento tenha a espessura desejada, é preciso plantar pelo menos duas fiadas de árvores, pois o vento, ao passar através da mínima brecha, reduz a sua eficácia.

As espécies de árvores mais adequadas para servirem de pára-vento ou abrigo são as mais adaptadas ao solo e ao clima da região e devem ter as seguintes qualidades:

O Quadro 1 indica as espécies de árvores mais adequadas ao papel de pára-vento em diferentes condições agro-ecológicas ou topográficas. O agente local de divulgação agrária pode aconselhar as comunidades sobre as diferentes espécies adequadas à sua região.

QUADRO 1
Algumas espécies de árvores adequadas para servirem de pára-vento

Espécies

Observações

Azadirachta indica

Regiões áridas e semi-áridas

Bixa orelana

Transplantada, adequada aos planaltos

Cassia

Semeada directamente, zonas secas

Casuarina equisetifolia

Transplantada, trópicos húmidos

Erythrina

Planaltos tropicais

Leucaena leucocephala

Transplantada, trópicos húmidos

Parkinsonia aculeata

Semeada directamente, zonas secas

Prosopis juliflora

Zonas áridas e semi-áridas

Schinus mollis

Transplantada, zonas secas e zonas húmidas

Tamarix

Muito resistente ao sal e à seca

PLANTAS DE COBERTURA

O solo de uma horta não deve ficar inculto durante muito tempo. As plantas de cobertura ajudam a reduzir a erosão eólica e hídrica. Na Rubrica Tecnológica de Horticultura 9, "Plantas de cobertura", são fornecidos detalhes sobre este assunto.

PLANTAÇÃO AO LONGO DAS CURVAS DE NÍVEL

As curvas de nível são linhas que atravessam horizontalmente uma encosta, ligando os pontos com a mesma altitude. Estas linhas são importantes para algumas medidas de conservação do solo, por exemplo plantação em curva de nível, a cultura em terraços ou sulcos em curvas de nível. Antes de plantar na curva de nível ou de fazer um sulco, é importante identificar e marcar as linhas. Isto pode ser feito com a ajuda de um esquadro de nível em forma de A.

Construção de um esquadro de nível em forma de A

1. Para construir um esquadro de nível em forma de A são necessárias duas estacas com pelo menos 3 metros de comprimento, um barrote de 2,5 metros, uma corda de 2 metros de comprimento e uma pequena pedra que servirá de peso.

2. Coloque as duas estacas (> 3 m) de modo a formar um V invertido e amarre solidamente as pontas do vértice. As estacas têm de ter exactamente o mesmo comprimento.

3. Fixe as duas extremidades do barrote de 2,5 m aos pés do V invertido (a cerca de 1 m da extremidade dos postes de 3 m) de modo a formar a barra horizontal do A.

4. Identifique o meio da barra horizontal, medindo-a com uma corda e seguidamente dobre-a ao meio.

5. Utilize a corda dobrada para marcar o meio da barra horizontal do esquadro de nível.

6. Amarre a pedra à extremidade da corda de 2 m. Fixe a corda à junção do esquadro de nível (no ponto onde as duas estacas se unem). A corda deve ficar alguns centímetros abaixo da barra horizontal do esquadro de nível. O peso da pedra mantê-la-á esticada.

FIGURA 1
Construção de um esquadro de nível em forma de A

Quando a corda esticada toca a marca que indica o meio da barra horizontal do esquadro de nível em forma de A, isso significa que os dois pés do esquadro estão ao mesmo nível do solo. Se a corda não toca essa marca significa que os pés do esquadro não estão ao mesmo nível do solo. Podem colocar-se ao mesmo nível deslocando um dos pés para cima ou para baixo da encosta, até que a corda esticada fique ao meio da barra horizontal do esquadro.

Implantação de uma curva de nível, utilizando o esquadro de nível em forma de A

Depois de ter colocado os dois pés do esquadro ao mesmo nível, marque com uma peguena estaca ou com uma pedra o ponto onde está fixo um dos pés. Depois levante esse pé, enquanto o outro se mantém fixo, e rode o esquadro de nível (em semi-círculo) até que o pé levantado fique do lado oposto. Coloque-o no solo e ajuste-o, de modo a que a corda esticada toque a marca indicando o meio da barra horizontal. Marque sobre o solo (com uma estaca ou uma pedra) o ponto do segundo pé do esquadro de nível, depois levante o segundo pé e rode-o até ficar no lado oposto do esquadro de nível . Repita esta operação, marcando de cada vez no solo o ponto onde cada um dos pés se apoia, antes de o mover para o lado oposto. Quando todos estes pontos estiverem marcados ao longo da encosta constitui uma curva de nível.

As culturas, incluindo árvores, podem ser plantadas ao longo das curvas de nível. Assim, reduzir-se-á o escoamento das água da chuva, possibilitando que esta se infiltre mais facilmente no solo.

FIGURA 2
Utilização de um esquadro de nível em forma de A

Valetas próximas umas das outras

O estabelecimento de valetas próximas umas das outras ao longo das curvas de nível permite reduzir a erosão do solo, facilita a infiltração da água no solo e mantém a lama. Os regos podem ser retidos a intervalos regulares com sulcos mais pequenos. Este sistema é adequado apenas para regiões de fraca pluviosidade.

Os canais de relva

O canais de relva são fiadas de culturas que canalizam o excesso de água proveniente dos campos, impedindo assim a erosão ao longo das curvas de nível. Os canais devem ser cobertos de relva ou plantados com outras plantas adequadas para reduzir a velocidade do escoamento das águas pluviais e estabilizar o solo. O vétiver e as espécies Crotalaria e Cynodium são correntemente utilizados.

Lavra em sulcos em curva de nível

A lavra em sulcos em curva de nível consiste em construir uma série de barreiras de terra ou de pedra (pequenos diques) ao longo das curvas de nível. Estes pequenos diques retêm a água, possibilitando que esta se infiltre no solo. O excesso de água é escoado por canais verticais.

Na medida do possível, é preciso ter atenção a que o solo da horta permaneça húmido e com vegetação de cobertura, de modo a preservar a camada arável.


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